ALMANAQUE DO MÊS
um monte de indicação de coisas pra ler, ver, ouvir que você provavelmente nem precisa.
Tô em falta com meus posts e nem tem como ser diferente já que aqui tem uma humana por trás do computador, aliás, uma humana fêmea, mãe, freelancer, louca da cabeça.
Decidi faz mais de um mês que abriria a possibilidade de assinaturas pagas e que a recompensa a principio seria uma edição ALMANAQUE com muitas indicações de coisas para ler, ver e ouvir.
ALMANAQUE? que nome é esse? se pergunta a pessoa menos 30 que me lê.
Eu, talvez você nascido nos anos 80, ou antes, amava comprar um almanaque abril no começo do ano, ou no final. Era uma revista, era notícia, era design diferentão, era tudo que a gente precisava para poder papear depois sem parecer desatualizado. Um primórdios das redes sociais? talvez sim, talvez não.
Quando pensei nessa edição, uma única com indicações e quase nenhum daqueles meus rodeios e divagações inúteis, pensei que seria meio um almanaque. Pronto, expliquei assim, pedagogicamente, o nome.
(andamos básicas)
FILMES!
Escolhi 5 para trazer aqui para vocês que fogem dos holofotes da mídia, pra vocês se aventurarem em coisas novas.
Crescendo Juntas (Are you there God? Its me Margareth) 2023 - Kelly Fremon Craig
A história linda de uma troca geracional de peso. Margareth, Barbara e Sylvia nos levam a sentir um calorzinho e a lembrar que crescer não é fácil mas é melhor se a gente tiver do lado cuidado e carinho. Mães, pais, assistam!
Tá no PRIME
(aproveito para dar dica dupla da mesma diretora: Quase 18, com a linda e maravilhosa Hailee Steinfeld)
Belas e Recatadas (Polite Society) (Nida Manzoor) - 2019 - Nida Manzoor
Cheguei nessa pérola através de uma indicação do quadro “Se você gostou desse filme feito por um homem, tente esse feito por uma mulher” da página no instagram da Ana, Narrativa Feminina. Sigam, e assinem seu apoia.se que dá acesso ao clube do filme, do livro, podcast e trocas surreais no chat.
A referência masculina é o Scott Pilgrim, filme que todo geek dos anos 90 ama. Eu curti bem mais essa direção feminina, a história de uma jovem que sente que precisa salvar sua irmã mais velha de um casamento arranjado numa comunidade indiana na Inglaterra. Tem ação, tem pop, tem boa trilha sonora e tem muito diálogo inteligente e ácido, até porque o centro são as relações entre as mulheres, Uma das protagonistas é ela, que eu amo, a Ritu Arya (fãs de Umbrella Academy não vão se decepcionar).
Tá na Netflix
Diário da minha vagina ( Fitting in -Molly McGlynn) 2024
Esse filme foi um achado de domingo quando eu não tinha vontade de ver nada pesado demais…mas me enganei! Caí numa dramédia ácida e intensa sobre despertar sexual, a violência ginecológica que estamos submetidas, síndromes raras, ter somente 16 anos e estar perdida, fora da curva, ser uma não padrão.
O título em inglês resume bem: Encaixando-se (Fitt de encaixar, ajustar)
Tudo que vemos são jovens e mulheres de meia idade tentando fazer parte da loucura que é viver e descobrindo que caixas são pequenas demais. Além de uma boa dose de representação Lgbtqiapn+, tem um bom foco em pessoas intersexuais, representatividade muito em falta nas telonas.
Tá na HBOmax
Como agradar uma mulher (How to please a woman) Renée Webster - 2022
E já que falamos de representatividade no último filme, trago este que mostra a mulheres maduras, no auge de seus 50,60, descobrindo novas formas de lidar com sua sexualidade.
A história é genial, parte de um lugar simples (uma dona de casa criando um negócio de limpeza ) para ir adicionando a cada diálogo e cena mais um detalhe sutil sobre esse tabu sexo e desejo pós 60 anos.
Amo a frase “nenhuma de nós desistiu de sexo e estamos cansadas de limpar a casa”.
Gente um tesouro, assistam por favor! Tá no prime.
Sem Coração (de Tião, Nara Normande) 2023
Esse filme brasileiro que entrou também na lista para ser candidato ao oscar junto com “Ainda estou aqui” é um feito!
O roteiro segue a história de Tamara, de família classe média intelectual branca que mora em uma praia de Alagoas e deve voltar para Brasília para começar a universidade. Seus amigos, moradores locais, periféricos e negros, são a alegoria para uma crítica social afiada dos diretores e também roteiristas.
No meio o romance de Tamara e uma menina chamada de “Sem coração”.
Detalhe: muitos dos atores novos nem nunca tinham atuado antes o que comprova uma excelente direção e preparação de elenco. Destaque para a fotografia linda das praias e para as cenas com baleias.
Tá na Netflix
SÉRIES (indicando as menos óbvias!)
DEAD LOCH (Kate McCartney) 2023
Começo por essa série maravilhosa, escrita, dirigida, vivida por sáficas que eu já indiquei e continuarei indicando.
Tem representatividade, tem diálogos afiados, suspense, ação e uma fotografia absurda da Tasmânia na Austrália. E tem um pouco de comédia no meio, um humor assim, diferente do nosso, mas bom. A crítica social e o final da primeira temporada são de tirar o fôlego.
A série acompanha uma detetive num povoado pacífico que de repente se vê diante de um serial killer. No meio do caminho ela recebe uma parceira e a interação entre as duas é algo estilo Sherlock Holmes e Watson. Fãs de Agatha Christie como eu vão curtir muito.
Tá no PRIME ( e a boa noticia é que vai ter segunda temporada)
AS WE SEE IT (Jason Katims, Romi Barta, Jesikah Suggs, Michelle Sam) 2024
Nosso Jeito de Ser, nome em português dessa série de uma única temporada, define bem a proposta: mostrar vários lados, diversos lados, do espectro em adultos.
3 personagens: Jack, o mais funcional de todos, com muitas questões de sociabilidade, Violet, que consegue ter emprego mas tem TOC e dificuldade absurda de leitura da realidade e Harrison, o menos funcional do grupo e porém o mais consciente de suas ações e suas limitações.
Como mãe de 3 crianças autistas (eu mesma sendo um tanto neurodivergente também), vi muita coisa nesse roteiro que precisa ser dita: não são anjos, não são de outro planeta, são somente pessoas com desejos e ambições.
Destaque para a personagem da cuidadora que erra muito e me deu um quente no coração. Porque todo mundo que chega nesse universo chamado autismo acha que sabe como lidar com ele e no fim erra muito, até entender que escuta é essencial.
Pena que foi cancelada. Será porque? a série tem em todos seus cargos neurodivergentes: dos roteiristas, atores, maquiadores, figurinistas, etc. Foi um grande avanço essa produção existir.
Tá no Prime
THE ROAD TRIP (China Moo-Young e Stella Corradi) 2024
Viajando com o Ex, nome em português dessa série da Paramount, é uma história simples e muito divertida, com um toque de drama, e muita crítica ácida.
Dois ex namorados forçados a viajar pela Espanha e relembrar o começo de seu falido romance, uma irmã e um amigo que caem como complementos dos arcos sobre tudo que deu errado para o casal e cenas lindas da Espanha.
Curti muito, é curta, fecha a história e tem ótimas atuações. Escrita por 3 mulheres e dirigida por outras 2, perfeito exemplo de quando a gente fala de um audiovisual feito com pontas fechadinhas.
Tá no Paramount plus
Ao Norte do Norte (North to North - Stacey Aglok MacDonald e Alethea Arnaquq-Baril) 2025
Essa série foi bem pros holofotes mas quis trazer ela por questões de representatividade: série filmada no ártico, escrita e dirigida por mulheres do ártico (inuíte) e com muita crítica à falta de politicas públicas para esse canto do mundo.
Fotografia branca gelada …tão suave!
A nossa protagonista está numa verdadeira jornada da heroína para ser quem ela quiser ser e leva junto nessa sua mãe, de uma geração que viveu horrores da sociedade branco canadense que coloniza o seu povo, e outras mulheres mais jovens e até as mais velhas.
A antagonista, uma mulher branca, também mostra muita complexidade. E o humor é bem afiado e em cenas nada triviais.
Tá na Netflix e já tem segunda temporada garantida.
Sobrevivendo em grande estilo (Michelle Buteau, Danielle Sanchez-Witzel) 2024
Essa série me ganhou ano passado com uma primeira temporada de tirar o fôlego! Michelle Buteau tá com tudo na atuação e os demais vão seguindo as deixas perfeitamente.
A história clássica de uma mulher traída que precisa se reinventar, só que essa mulher é gorda, é latina, é negra, tudo é mais difícil ainda. Vemos essa mulher ainda na luta para que outras mulheres de corpos grandes possam se amar e ter espaços na moda de alta costura.
Pessoalmente o episódio da formatura é perfeito (primeira temporada) porque além do mais trás a representatividade LGBTQPNIA+ junto. Segura o lenço!
A segunda temporada eu curti menos: focou demais no romance e só no final engata em mostrar a Maves com seus discursos afiados e sua coragem para peitar o que é sua bandeira: uma moda original, ética e plus size.
A trama dos co- protagonistas melhorou mais nessa segunda temporada. Ao menos. Espero ganhe uma terceira.
Tá na netflix.
********
Pela primeira vez recebi um aviso de “texto muito longo para email” e precisei concordar !
Indicações de Música e Livros vão ficar para a próxima do ALMANAQUE, lembrando que é uma edição mensal.
Hoje vai de post aberto para todes, mas em breve vai ser conteúdo só de assinantes ok?
Beijos,
Lila
PS: achou um saco tudo isso? me conta por favor.